E aí... E daí?
- A céu aberto

- 3 de fev. de 2023
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03 de fevereiro de 2023, céu de Feira de Santana, às 13:15.

Sim, é a mesma paisagem de ontem, mas num horário diferente. Convenhamos que é difícil de enjoar de uma vista dessas. Estava indo para o trabalho, 32ºC com sensação térmica de 36ºC, o uber tocando Palpite, da Adriana Calcanhoto, e eu me sentindo prostrada de calor e medo do futuro. Não costumo ter pensamentos profundos e reflexivos do nada, o que significa que terei que abrir um adendo para falar que recebi uma proposta de um date. Na verdade, nada tão elaborado, apenas um café e uma conversa, sem saber no que vai dar.
O convite, confesso, me fez engolir a saliva secamente, minhas mãos suaram e meu estômago embrulhou. Diferente do que eu pensava, essa não é mais uma boa combinação de sensações, parece mais um apinhamento de ansiedades e inseguranças. Tenho no peito e na memória um término recente, o convite não se estendia para um romance, mas minha mente traiçoeira já me apunhalou com a ideia de olhar carnalmente outro homem que não é a pessoa que amei por 3 anos, que continuo a amar no interior do meu ser. O convite era só uma proposta para sair da rotina, conversa e café, talvez uns beijos... Porém me soou como uma convocação para lutar na guerra. Eu contra um exército de autossabotagens e autocríticas, armadas com argumentos para me impedir de ter novas experiências, de errar sem medo, de viver!
Se este momento de voltar a ver pessoas amorosamente se aproxima para mim, temo pensar em como pode estar sendo para aquele que me deixou sem uma explicação decente. Melhor não me concentrar na vida de quem me excluiu dela brutalmente. Devo culpar o motorista do uber por me dar uma trilha sonora tão capciosa, mas ele nunca entenderia por que quase comecei a chorar ao ouvir aquele refrão:
E aí, será que você volta? Tudo à minha volta é triste E aí, o amor pode acontecer De novo pra você, palpite
Como uma boa indecisa, recorri a amigos. Recebi incentivos daqueles que acham que preciso viver, tomar o bendito café e beijar bocas sem as amarras do envolvimento amoroso. Eu já acho muito cedo. Sou fogo de palha, admito. Converso, flerto, atiço (ou achou que o convite veio do nada?), mas na hora do vamo ver, não vou nem vejo, só pulo fora como se nada tivesse acontecido. Tenho trabalhado a minha responsabilidade afetiva, mas ainda preciso desenvolver a capacidade de investir no vamo ver ou parar de flertar inconsequentemente.
A verdade é que não consigo discernir a minha vontade ou a falta dela de tomar esse café, porque estou muito envolvida nas restrições, tabus e amarras que fingi não ter ao longo dos anos. Eu quero e não quero. Quero a enxurrada de neurotransmissores de prazer, alegria e relaxamento, mas não quero a burocracia para alcançá-la. Queria poder me teletransportar para o local e o momento do date, e não ter que enfrentar tudo entre o vamo e o ver.
Caramba, eu sou uma mulher de 25 anos, 5 para 30, e não sei como dizer aos meus pais que estou saindo para ir ali, tomar um café com um cara que eles não conhecem, enquanto eles ainda não superaram o cara anterior. E daí se foi ele quem quis terminar? E daí se ele se foi sem nem olhar para trás ou se arrepender? Ainda parece culpa minha, ainda parece que estou amarrada a ele, às lembranças e ao sentimento.
Alguém quer sair comigo, mas acho que eu não quero, não a pessoa, eu mesma. Acho que não quero sair comigo, não quando nunca fiz nada semelhante ou enquanto me sinto julgada e podada por causa da oportunidade de ter experiências sociais e sensoriais sem compromisso.
O convite foi desconversado, deixei em stand by enquanto não me sinto pronta. Se ele perder o interesse, talvez me poupe o trabalho de superar certos obstáculos. Se ele insistir... Talvez eu compre uma passagem só de ida para a Groelândia.
E o que o céu tem a ver com tudo isso? Olhar para ele foi a única coisa que me relaxou e me deu aquela sensação de que sou pequena e que meus problemas não são os maiores. A propósito, hoje a lua está cheia e linda.
Já olhou para o céu hoje?
Xêro!


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